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segunda-feira, 11 de julho de 2016

NUNO CARMO»» Treinador português nos EUA



Trabalha no Global Premier Soccer - Bayern Munique


“O FUTEBOL NOS ESTADOS UNIDOS É COMPLETAMENTE DIFERENTE DO EUROPEU”


Nuno Carmo, tem 27 anos, é licenciado em Treino Desportivo pela Escola Superior Desporto de Rio Maior, treinador de futebol há cinco anos e neste momento encontra-se a trabalhar nos Estados Unidos para a Global Premier Soccer - Bayern Munique.

Nos primeiros anos de treinador trabalhou na equipa sénior do Grupo Desportivo Alcochetense onde exerceu o cargo de observador na época 2011/12 com o Mister Nuno Guia, adjunto com o Mister Joaquim Serafim e preparador físico/adjunto com o Mister José Pedro.

Na época 2012/13 acumulou o cargo de treinador de Benjamins A e na época 2014/15 foi treinador dos juniores do Grupo Desportivo Alcochetense, enquanto trabalhava com os seniores.

Nesta entrevista Nuno Carmo fala da sua passagem pelo Grupo Desportivo Alcochetense e essencialmente da experiência que está a viver no Global Premier Soccer clube criado nos Estados Unidos à cerca de 6 anos, que tem uma parceria com o Bayern Munique desde Novembro 2014.

A realidade é completamente diferente “somos nós treinadores que pagamos aos árbitros antes dos jogos, sendo que o clube fornece o dinheiro. Os treinadores todas as segundas-feiras de manhã têm de limpar o campo de treinos, onde não existem balneários, esta é uma realidade que o futebol de formação dos Estados Unidos não conhece”, refere Nuno Carmo.


“Trabalhar como treinador é a minha paixão
seja em Portugal ou noutro local”


Embora seja um treinador ainda jovem encontra-se a trabalhar no estrangeiro para um grande clube. Como é que surgiu esta possibilidade?
Durante a época 2015/16 procurei emprego como treinador no estrangeiro. Soube por um colega meu que o Bayern Munique tinha criado uma parceria com um clube de formação nos Estados Unidos, o Global Premier Soccer. Enviei o meu currículo, obtive uma entrevista, fiz um pequeno estágio em Inglaterra e assinei contrato. A partir daí foram questões burocráticas relacionadas com o visto. Durou 4 meses desde o momento que assinei até viajar para os Estados Unidos.

Está a gostar daquilo que faz?
Trabalhar como treinador é a minha paixão. Seja em Portugal, nos Estados Unidos ou noutro local, quando me encontro no treino é como tivesse chegado a casa. No entanto, aqui nos Estados Unidos realizo trabalho de escritório em conjunto com os treinos, sendo que realizo tarefas mais administrativas inerentes ao clube do que planeamento relativo à formação dos jogadores e da minha equipa. O futebol nos Estados Unidos é completamente diferente do Europeu. Existe uma questão cultural que ainda não se desenvolveu e a nível organizativo, desde o topo até aos clubes, é quase irreal para nós, europeus. Para partilhar alguns exemplos, a nível do futebol formação que é a minha realidade, somos nós treinadores que pagamos aos árbitros antes dos jogos, sendo que o clube fornece o dinheiro. Os treinadores todas as segundas-feiras de manhã tem de limpar o campo de treinos. Não existem balneários, é uma realidade que o futebol de formação dos Estados Unidos não conhece. Existem muitas histórias engraçadas a contar por aqui. Mas durante os treinos tudo se esquece.


“Em vez de criar um protocolo com um clube profissional o Bayern decidiu apostar na formação”


Conte-nos um pouco o tipo de trabalho que está a desenvolver?
Como já disse de manhã resolvo questões administrativas como inscrições e pagamentos de jogadores, e-mails com os pais e jogadores, calendarização de jogos, planeamento semanal dos grupos de trabalho, etc. De tarde trabalho com os escalões de sub19 e sub20 maioritariamente, sendo que por vezes tenho de realizar alguns treinos com escalões mais jovens. Trabalho ainda com o escalão de 2003 que se encontra no programa Bayern, onde apenas os melhores jogadores de três Estados se encontram, sendo que alguns deles já foram treinar à Alemanha com a equipa oficial do Bayern de 2003. Nesta altura a época parou e apenas as duas equipas que treino estão em competição. Geralmente a época no futebol formação aqui é dividida entre época de outono e época de primavera. Oito jogos por campeonato e uma enorme quantidade de torneios. Porque os torneios aqui tem uma maior preponderância visto que os treinadores das faculdades encontram-se presentes nestes. Algo que faz parte da cultura deles.

Quer então dizer que trabalha para um clube que é filial do Bayern de Munique?
Exactamente. Todos nós sabemos a dimensão do Bayern Munique. O clube procura criar raízes em vários continentes e em Novembro de 2014 criou uma parceria com um clube de formação dos Estados, o Global Premier Soccer. A partir dessa altura ficou denominado como Global Premier Soccer - Bayern Munique. O clube opera em 11 estados e procura chegar aos 50 estados. Sendo mais pragmático é como as Escolas Academia Sporting em Portugal - existe uma em Loures, outra na Marinha Grande, etc. A diferença é que nos Estados Unidos, o Bayern apenas trabalha connosco e faz parte do nosso clube, com a sua filosofia de trabalho, treinadores, dirigentes, etc. Em vez de criar um protocolo com um clube profissional decidiu apostar na formação. Uma aposta muito inteligente da parte deles.




“Quem vem para aqui tem que engolir o orgulho e realizar tarefas que nunca teve em Portugal”


Esta é uma boa opção para quem está a começar?
Julgo que depende dos objectivos de cada treinador. Eu queria ganhar experiência e quem sabe criar uma vida aqui nos Estados Unidos. Experiência tenho obtido, criar vida é um pouco mais complicado. Para aqueles que procuram aprender um pouco mais, desenvolver a sua formação, ganhar experiência e trabalhar com pessoas conceituadas, arrisquem que a experiência é recompensadora. Se procuram uma vertente mais profissional do futebol, talvez esta não seja a melhor opção. Quem vem para aqui tem de aprender a engolir o seu orgulho e estar preparado a realizar tarefas que nunca teve de realizar em Portugal e lidar com uma cultura futebolística completamente diferente. 


“Alcochetense foi o clube que me abriu as portas ao futebol”


Durante algum tempo trabalhou no GD Alcochetense foi importante para si esta passagem pelo clube?
Foi o meu único clube em Portugal. Alguns dizem que me acomodei, outros que estagnei o meu desenvolvimento. Eu vejo de forma diferente. Foi o clube que me abriu as portas ao futebol. Fui muito bem acolhido pelas pessoas que lá trabalharam durante cinco anos, e o meu trabalho foi recompensado com oportunidades. O que me fez ficar tanto tempo no Alcochetense foram as pessoas e o objectivo que foi delineado desde que trabalhei com o futebol sénior com o Mister Joaquim Serafim e o Mister José Pedro. Nunca conseguimos alcançá-lo mas todos desde presidente a roupeiro dedicámos muito do nosso tempo e das nossas vidas para trazer uma felicidade aos nossos adeptos. 
Desenvolvi muito como treinador nestes 5 anos que passei pelo clube e queria agradecer em especial a 3 pessoas: ao ex-director João Felicíssimo por ter acreditado no meu potencial e aos misters Joaquim Serafim e José Pedro, duas pessoas com um historial incrível no futebol e que com o seu talento irão chegar a outros patamares rapidamente. Só espero poder um dia chegar ao nível de ambos, ou ultrapassá-los.



“Quando regressar vou procurar realizar dois estágios no estrangeiro”

Quais são as suas ambições em termos futuros?
Neste momento quero terminar o meu contrato e regressar a Portugal. Quando regressar vou procurar realizar dois estágios no estrangeiro, um em Inglaterra e outro na Holanda. Apenas aguardo confirmação das pessoas que estão envolvidas para poder marcar as viagens. Quando regressar vou continuar a apostar na minha carreira de treinador e lutar para alcançar o meu sonho de tornar-me profissional.

Terá ficado ainda algo por dizer nesta conversa?
Quem apostar numa carreira ou numa experiência no estrangeiro, procurem obter o máximo de informação possível antes de irem, de forma a melhor adaptarem-se ao contexto e obterem sucesso na vossa função.
A melhor das sortes ao Grupo Desportivo Alcochetense e à nova direcção. Que elevem o clube a novos patamares e tenham sucesso no seu novo projecto. E sucesso ao novo mister Victor Conceição, que tive o prazer de conhecer. Com a sua qualidade, paixão e entrega certamente conseguirá trazer muitas felicidades aos sócios. 

Obrigado ao Jornal de Desporto por esta oportunidade e continuação de um excelente trabalho que têm realizado. Mesmo no estrangeiro é sempre bom ter notícias desta qualidade sobre o desporto do nosso distrito.



Global Premier Soccer - Bayern Munique


O clube Global Premier Soccer foi criado nos Estados Unidos à cerca de 6 anos e a parceria com o Bayern Munique começou em Novembro 2014.

Existe um trabalho conjunto por parte dos dois clubes, sendo que a metodologia de trabalho utilizada é a mesma que na Alemanha, pois o interesse do Bayern é formar jogadores, segundo a sua filosofia, por diversos países, aumentando assim a sua rede de prospecção. Portanto, não se trata apenas do Bayern Munique, mas sim de uma das filiais e o único parceiro que o clube alemão tem no Estados Unidos.