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segunda-feira, 24 de junho de 2019

FUTSAL»» Campeonato do Seixal que futuro?


Capitão da Casa do Povo de Corroios coloca o dedo na ferida…

“O CAMPEONATO PRETENDE SERVIR A LÓGICA EXCLUSIVAMENTE POPULAR OU SER UMA RAMPA DE LANÇAMENTO PARA O FEDERADO?”

Pedro Gomes, capitão da equipa da Casa do Povo de Corroios, resolveu fazer uma paragem na sua carreira por desgaste físico e mental. O jogador entende que antes do atleta vem sempre o indivíduo e como o campeonato tem evoluído muito para além do popular torna-se difícil a sua compatibilidade numa lógica de puro lazer com os afazeres diários.

Tendo em conta a sua experiência na competição seixalense o nosso jornal foi ao seu encontro no sentido de abordar algumas questões pertinentes que têm vinda a causar algum descontentamento e a gerar mesmo alguma polémica que levou inclusivamente ao abandono de duas equipas. 


Qual a sua opinião sobre a forma como está a decorrer este ano o campeonato da I Liga?
A resposta a esta pergunta não é fácil. O Campeonato deste ano tem conhecido muita turbulência que na minha opinião se deve à zona cinzenta em que actualmente se encontra. A lógica é popular ou aproxima-se mais do federado? Repare, muitas equipas, contrariando a lógica popular, já começam pré-épocas em Agosto que obriga a fechar plantéis logo em Setembro, porque o campeonato poderá vir a iniciar no final do ano. Se assim fosse, facilitava o planeamento e a gestão de personalidades e expectativas, mas não tem sido no final do ano, e a partir daí vem o desafio, temos a Seixalíada apenas no início de Outubro para a maioria da equipas, mas e depois? Como gerir expectativas e motivar 20 atletas a marcar presença durante quatro meses seguidos apenas em treinos até meados de Fevereiro [que é quando se tem iniciado o campeonato, devido aos sucessivos atrasos] para depois os sujeitar a um pico desgastante de dois jogos e dois treinos por semana até Julho? De Agosto a Julho são 11 meses ou a treinar ou a competir, isto está longe de ser lógica popular. A acrescer a estas dificuldades, temos o crescente aumento de complexidade burocrática, com exames médicos, andar atrás de pessoas para serem delegados de jogo, responsáveis de campo, oficiais de campo, massagistas, ter o conhecimento de dois Regulamentos, o Geral e o da AF Setúbal, fora a própria gestão interna. Toda esta complexidade burocrática e crescimento exponencial de exigência tem o mérito de ter aumentado e muito o nível qualitativo médio das equipas no campo desportivo, aproximando as mesmas do nível Distrital e afastando-as do nível popular. Mas depois há o outro lado, muitas destas equipas vivem da carolice de figuras como o atleta-treinador-dirigente ou o treinador-dirigente cuja capacidade de resposta torna-se insuficiente para as exigências actuais. A própria lógica de reconhecimento do campeonato não segue a componente popular. Deve-se reconhecer o mérito de um campeão evidentemente, contudo actualmente não existe o reconhecimento de todas as equipas participantes, nem com a entrega de uma simples lembrança. Resta a pergunta, o campeonato pretende servir a lógica exclusivamente popular, ser uma rampa de lançamento para o Federado ou um misto de ambos? Qualquer que seja a lógica, a mesma não se encontra definida actualmente.


Não é muito normal as equipas abandonarem as competições com elas a decorrerem, como foi o caso da Casa do Benfica Seixal e Águias de Vale de Milhaços. Entende que havia razões para isso?
O abandono de uma equipa é sempre uma decisão muito difícil, tomada ao mais alto nível. A saída destas duas equipas é um grande prejuízo para o campeonato, devido à capacidade de mobilização e aos elementos (atletas e dirigentes) de grande valia que as mesmas têm apresentado nos últimos anos e pelos quais sempre tive muito respeito.

É da opinião que passasse a existir um representante dos jogadores na Comissão de Futsal?
Já fui dessa opinião no passado, hoje em dia tenho uma opinião ligeiramente diferente. A Comissão, mais do que um representante de todos os jogadores, necessita de ter todas as equipas participantes a colaborar em prol do bem comum do campeonato. Todos acabamos por nos queixar do mesmo, que é da sobrecarga de tarefas para operacionalização de equipas, e a um nível superior, ao do próprio campeonato. Mais pessoas na Comissão, com distribuição equitativa de trabalho, permitiria dar resposta às necessidades existentes e simplificar às equipas a burocracia actual. Em relação aos jogadores, defendo que deveriam ser criados grupos de trabalho entre outras iniciativas (workshops, ted talks, seminários, etc) com os dirigentes actuais e os jogadores que se identificam com o movimento associativo para poder assegurar o futuro do Campeonato do Seixal através de uma melhor comunicação e a preservação das referências. 


A Casa do Povo vai organizar um torneio solidário de futsal ao qual se juntou agora a Casa do Benfica Seixal. Foi bem aceite esta adesão?
Para clarificação de conceitos, a secção de futsal da Casa do Povo em conjunto com o Liberdade Futebol Clube decidiu empreender um convívio de futsal para fins solidários. Temos feito a divulgação do mesmo e só podemos ficar satisfeitos que a Casa do Benfica do Seixal, que não é uma das 4 equipas participantes, se tenha identificado com os valores defendidos e tenha mostrado disponibilidade para contribuir numa vertente extra-desportiva.