Capitão da Casa do Povo de Corroios coloca o dedo na
ferida…
“O CAMPEONATO PRETENDE SERVIR A LÓGICA EXCLUSIVAMENTE
POPULAR OU SER UMA RAMPA DE LANÇAMENTO PARA O FEDERADO?”
Pedro Gomes, capitão da equipa da Casa do Povo de
Corroios, resolveu fazer uma paragem na sua carreira por desgaste
físico e mental. O jogador entende que antes do atleta vem sempre o indivíduo e
como o campeonato tem evoluído muito para além do popular torna-se difícil a
sua compatibilidade numa lógica de puro lazer com os afazeres diários.
Tendo em conta a sua experiência na competição seixalense
o nosso jornal foi ao seu encontro no sentido de abordar algumas questões
pertinentes que têm vinda a causar algum descontentamento e a gerar mesmo
alguma polémica que levou inclusivamente ao abandono de duas equipas.
Qual
a sua opinião sobre a forma como está a decorrer este ano o campeonato da I
Liga?
A resposta a esta pergunta não é fácil. O Campeonato deste
ano tem conhecido muita turbulência que na minha opinião se deve à zona
cinzenta em que actualmente se encontra. A lógica é popular ou aproxima-se mais
do federado? Repare, muitas equipas, contrariando a lógica popular, já começam
pré-épocas em Agosto que obriga a fechar plantéis logo em Setembro, porque o campeonato
poderá vir a iniciar no final do ano. Se assim fosse, facilitava o planeamento
e a gestão de personalidades e expectativas, mas não tem sido no final do ano,
e a partir daí vem o desafio, temos a Seixalíada apenas no início de Outubro
para a maioria da equipas, mas e depois? Como gerir expectativas e motivar 20 atletas
a marcar presença durante quatro meses seguidos apenas em treinos até meados de
Fevereiro [que é quando se tem iniciado o campeonato, devido aos sucessivos atrasos]
para depois os sujeitar a um pico desgastante de dois jogos e dois treinos por
semana até Julho? De Agosto a Julho são 11 meses ou a treinar ou a competir,
isto está longe de ser lógica popular. A acrescer a estas dificuldades, temos o
crescente aumento de complexidade burocrática, com exames médicos, andar atrás
de pessoas para serem delegados de jogo, responsáveis de campo, oficiais de
campo, massagistas, ter o conhecimento de dois Regulamentos, o Geral e o da AF Setúbal,
fora a própria gestão interna. Toda esta complexidade burocrática e crescimento
exponencial de exigência tem o mérito de ter aumentado e muito o nível
qualitativo médio das equipas no campo desportivo, aproximando as mesmas do
nível Distrital e afastando-as do nível popular. Mas depois há o outro lado,
muitas destas equipas vivem da carolice de figuras como o
atleta-treinador-dirigente ou o treinador-dirigente cuja capacidade de resposta
torna-se insuficiente para as exigências actuais. A própria lógica de
reconhecimento do campeonato não segue a componente popular. Deve-se reconhecer
o mérito de um campeão evidentemente, contudo actualmente não existe o
reconhecimento de todas as equipas participantes, nem com a entrega de uma
simples lembrança. Resta a pergunta, o campeonato pretende servir a lógica
exclusivamente popular, ser uma rampa de lançamento para o Federado ou um misto
de ambos? Qualquer que seja a lógica, a mesma não se encontra definida
actualmente.
Não
é muito normal as equipas abandonarem as competições com elas a decorrerem,
como foi o caso da Casa do Benfica Seixal e Águias de Vale de Milhaços. Entende
que havia razões para isso?
O abandono de uma equipa é sempre uma decisão muito difícil,
tomada ao mais alto nível. A saída destas duas equipas é um grande prejuízo
para o campeonato, devido à capacidade de mobilização e aos elementos (atletas
e dirigentes) de grande valia que as mesmas têm apresentado nos últimos anos e
pelos quais sempre tive muito respeito.
É da
opinião que passasse a existir um representante dos jogadores na Comissão de
Futsal?
Já fui dessa opinião no passado, hoje em dia tenho uma
opinião ligeiramente diferente. A Comissão, mais do que um representante de
todos os jogadores, necessita de ter todas as equipas participantes a colaborar
em prol do bem comum do campeonato. Todos acabamos por nos queixar do mesmo,
que é da sobrecarga de tarefas para operacionalização de equipas, e a um nível
superior, ao do próprio campeonato. Mais pessoas na Comissão, com distribuição
equitativa de trabalho, permitiria dar resposta às necessidades existentes e
simplificar às equipas a burocracia actual. Em relação aos jogadores, defendo
que deveriam ser criados grupos de trabalho entre outras iniciativas
(workshops, ted talks, seminários, etc) com os dirigentes actuais e os
jogadores que se identificam com o movimento associativo para poder assegurar o
futuro do Campeonato do Seixal através de uma melhor comunicação e a
preservação das referências.
A
Casa do Povo vai organizar um torneio solidário de futsal ao qual se juntou
agora a Casa do Benfica Seixal. Foi bem aceite esta adesão?
Para clarificação de conceitos, a secção de futsal da
Casa do Povo em conjunto com o Liberdade Futebol Clube decidiu empreender um
convívio de futsal para fins solidários. Temos feito a divulgação do mesmo e só
podemos ficar satisfeitos que a Casa do Benfica do Seixal, que não é uma das 4
equipas participantes, se tenha identificado com os valores defendidos e tenha
mostrado disponibilidade para contribuir numa vertente extra-desportiva.