Numa reunião com a direcção e os jogadores…
A direcção diz que as ambições da equipa técnica não estavam em sintonia com as ambições do clube mas Rui Fonseca contesta. “Quem treina o Barreirense tem de ter sempre uma atitude ambiciosa e um espirito de conquista. Se é acompanhado ou não pelas condições de trabalho, ou se o clube pode acompanhar essa ambição, é outra história”.
Em entrevista ao nosso
jornal, Rui Fonseca conta tudo ao pormenor, desde a reunião que despoletou a
decisão, aos resultados, à contestação e às ocorrências registadas no último domingo
onde, com o jogo a decorrer, foi entrevistado pelo Canal 11.
A reunião que fragilizou o grupo
- O Rui Fonseca
colocou o seu lugar à disposição. Que motivos o levaram a tomar a decisão?
São vários, mas o
primeiro e o mais pertinente deve-se ao facto de termos tido uma semana muito
conturbada que afectou muito o grupo de trabalho, pois foram postas em causa várias
questões, de confiança, de dignidade e de compromisso. Quando se promove uma
reunião, em que estão presentes, a direcção, os treinadores e os jogadores
(todos juntos) e se pergunta aos jogadores se estão com a equipa técnica, é não
entender muito de futebol, e escusado será dizer que a partir daquele instante
a equipa técnica estava a prazo. Se estavam à espera que os jogadores fossem
dizer que não estavam com o treinador é não querer assumir as suas
responsabilidades (legitimas) e passá-las para os atletas. Essa reunião deixou
todo o grupo de trabalho muito fragilizado e em consequência disso, estaríamos
sempre a discutir os resultados semana após semana, a saída do treinador se não
fosse nesta semana seria noutra muito próxima. Perante todo este cenário, e
porque sou Barreirense, passei das palavras aos actos; ou seja, sempre servi o
clube, nunca me servi dele e sempre disse que seria parte da solução e nunca do
problema. Como tal, no final do jogo não podia ter outra decisão que não fosse colocar
o lugar à disposição.
Os resultados
- O facto de a equipa
ter cinco empates nos seis jogos do campeonato teve alguma influência?
Não, não teve, até
porque os números podemos analisá-los de varias formas. Já estávamos a 5 pontos
do primeiro classificado, ou estávamos apenas a 5 pontos do primeiro? Cinco empates
mas zero derrotas. Campeões à 6ª jornada num campeonato tão equilibrado como o
deste ano, em que todas as semanas haverá perda de pontos dos clubes do topo da
tabela. Repare que os dois primeiros classificados já tiveram uma derrota. Para
se falar dos 5 empates, 1 vitória e zero derrotas, deveremos ir um pouco mais a
fundo e dizer que ainda neste último jogo, estavam na bancada 5 atletas, todos
eles, com qualidade para jogar em qualquer equipa do topo da tabela, Kevin,
Pimenta, Daniel Lourenço, Miguel Correia e Fabinho, todos eles lesionados por
questões traumáticas. Até o Benfica ou o FC Porto se lhe retirarem 5 titulares
(meia equipa) irão de certeza ressentir-se. Desde o primeiro jogo que não
conseguimos repetir um onze devido a lesões traumáticas. Mas o que teve real
influência, foi a grande dignidade desta equipa técnica que não está agarrada a
nada nem a ninguém, e por isso tomou a atitude que tomou.
- Alguma vez sentiu
que estava a ser contestado em virtude dos resultados menos bons da equipa?
Quando não se ganha
temos de estar sempre preparados para a contestação, mas tal como eu tive
oportunidade de referir à direcção, a equipa técnica nunca será levada a tomar
decisões de fora para dentro. A equipa técnica sabia bem para onde queria ir e
como o devia fazer, por isso, a contestação se existia, ela era aceitável, mas
não mais do que isso. Não trabalho ao sabor da contestação ou da palmadinha nas
costas.
A ambição e o protagonismo
- O plantel era o que
queria e dava-lhe garantias?
Este plantel foi
feito na sua totalidade por mim. Não nos podemos esquecer que na altura das
decisões e de fazer o plantel a anterior direcção estava demissionária, e esta
direcção ainda não existia, fiz o melhor que sei e que pude, de forma a dotar o
plantel de qualidade futebolística e humana. E foi o que se fez, grande grupo
de trabalho que o FCB tem em mãos, jogadores extraordinários e cheios de
compromisso. Davam-me totais garantias que podíamos atingir aquilo que nos
propusemos. Quem treinar o Barreirense tem de ter sempre uma atitude ambiciosa
e um espirito de conquista, se depois é acompanhado pelas condições de trabalho
ou se o clube pode acompanhar essa ambição, isso já é outra história. Muitas
coisas não correram bem mas dizer que as ambições da equipa técnica não estavam
em sintonia com o clube, não é correcto. Como se pode falar em ambição de
subida se ainda não pagaram aos atletas o mês de Outubro. Fobia de notoriedade,
de protagonismo? No domingo, em pleno jogo com a segunda parte a decorrer fui
surpreendido por um jornalista do Canal 11 a fazer-me perguntas. Por uma
questão de respeito, respondi-lhe a uma pergunta e coloquei-me logo de pé. O meu
adjunto foi para junto dele para tentar suavizar a situação. O que me pediram,
foi para deixar filmar o almoço e o nosso grito, mas nunca se falou em dar
entrevistas em pleno jogo, sou totalmente contra isso. Ando há muito anos no
futebol e nunca necessitei deste tipo de coisas, apenas ando pela paixão ao
jogo e não ando por protagonismo.
- Certamente
no seu semblante está alguma tristeza por não ter conseguido realizar aquilo
que pretendia…
Isso sim. Tenho uma
enorme tristeza de não poder dar ao glorioso Barreirense aquilo que ele tanto
merece. Uma enorme tristeza por deixar de ser o líder deste grupo maravilhoso
de jogadores. Mas o futebol é fértil nestas coisas, temos de seguir em frente.
- Quer acrescentar
algo mais?
Gostaria de agradecer
ao José Pina pela oportunidade que nos dá, a todos nós treinadores, de podermos
ter um espaço onde possamos passar a nossa ideia. Agradecer também à minha equipa
técnica por tudo aquilo que dá a este jogo maravilhoso, quase sempre em troca
de quase nada. E, por fim, agradecer ao senhor Amândio Jesus e ao Duka Duarte
toda a sua competência com que nos acompanhou.