Nuno
Ferreira não concorda com 18 clubes no campeonato…
“ALARGAMENTO
TORNA-SE INSUSTENTÁVEL PARA UM CLUBE COMO OS PESCADORES”
Nuno
Ferreira, líder da equipa técnica que comandou os Pescadores da Caparica no
campeonato distrital da 1.ª divisão, em entrevista ao nosso jornal, faz o
balanço do trabalho realizado pela equipa até ao momento em que a prova foi
suspensa.
“No
que respeita ao trabalho diário foi uma época positiva e em termos desportivos foi
conseguido o objectivo, que passava pela manutenção”, diz o treinador.
Sobre
o término do campeonato, Nuno Ferreira é da opinião que “poderiam ter aguardado
mais algum tempo para tomar uma decisão” mas ao mesmo tempo reconhece que em
primeiro lugar está a “saúde pública” e em particular dos jogadores, mas não
concorda com o alargamento do campeonato que se torna insustentável para um
clube com a dimensão dos Pescadores.
Época
magnífica
Na
altura em que o campeonato foi suspenso os Pescadores seguiam em 13.º lugar, se
calhar um pouco aquém daquilo que seria de esperar…
Haverá sempre duas faces da mesma moeda e
neste caso, duas apreciações que poderão ser feitas ao percurso dos Pescadores
na época 2019/2020. A visão de quem é adepto e quer sempre mais e a visão de
quem diariamente trabalha com tudo o que se refere a uma equipa de futebol
amador. Avaliando a época como parte interveniente no que diz respeito ao
trabalho diário foi uma época bastante positiva para o clube. Numa fase clara
de tranquilidade e de pequenos passos de crescimento foi sem dúvida uma época
magnifica para os Pescadores. Acredito que seja unanime que os Pescadores
perderam muito do fulgor que tinham no passado recente, com a equipa
frequentemente em lugar de subida na antiga 3.ª Divisão e todos os seus
escalões de formação nos Campeonatos Nacionais. O clube tem grandeza e história
para estar acima da 1.ª Distrital, mas por erros cometidos no passado, o actual
presente vai dando pequenos passos para devolver o clube para o lugar onde
merece estar. Desta forma, uma estrutura que tem tirado o clube do fosso onde
estava evidentemente metido há alguns anos, pagando dividas atrás de dividias
(não entrando naturalmente em pormenores) e sobrando pouco para fazer o
presente crescer, apenas se pode orgulhar por conseguir fazê-lo da forma
grandiosa como tem feito. Eu, enquanto treinador do clube, sinto-me orgulhoso
do percurso que foi feito nos últimos três anos. Em termos desportivos, uma
equipa que sobe da 2.ª Distrital e que se apresenta como uma das equipas com
maiores dificuldades financeiras no actual campeonato, criando como objectivo
natural a manutenção, e consegue estar em posição de manutenção ao longo das 18
jornadas disputadas e que a par disso alcança a melhor classificação de sempre na
Taça AF Setúbal, faz-me ter a certeza clara que foi uma época inteiramente
dentro do que seria de esperar.
Orgulho
nos jogadores
Houve
alguma coisa que não correu bem?
Haverá sempre muitas
questões que não correram bem. Aparecem pedras no nosso caminho que muitas
vezes nos fazem desviar do previamente definido e planeado. No entanto, fomos
conseguindo encontrar as respostas que necessitávamos internamente. Num grupo
fortemente composto por jogadores que vieram connosco da 2.ª Distrital (73% do
plantel), foi sempre assente num grupo muito forte que fomos invertendo os
momentos menos positivos. Os nossos jogadores fazem jus à história do clube e
são reconhecidos como guerreiros dentro do campo e uma “família” enorme fora
dele. Há um orgulho enorme tanto da Direcção como da equipa técnica, no que diz
respeito aos jogadores.
Havia
tempo para pensar melhor
A época
terminou de forma prematura, entende que a decisão tomada foi a melhor solução
encontrada?
Infelizmente para
todos, a época não terminou da forma como pretendíamos. É sempre complicado
quando partimos para uma maratona com 42km e ao fim de 25km nos colocam a meta
à frente e dizem que afinal a prova terminou. Claramente que considero que a
saúde pública está em primeiro lugar, que a saúde dos nossos jogadores e de
todos os intervenientes está igualmente em primeiro lugar. Sou da opinião que
talvez pudéssemos ter aguardado mais umas semanas, mesmo que a decisão fosse de
encontro ao que foi tomado há uma semana e meia atrás, no entanto, se houvesse
uma réstia de hipótese de se poder jogar, poderíamos ter aguentado. Neste
campeonato há jogadores que jogam por amor ao desporto, assim como há jogadores
que conseguem tirar um complemento do seu ordenado com esta mesma prática e
outros a quem o futebol permite duplicar o salário. Para todos os casos (amor
ao desporto, complemento salarial ou estabilidade financeira) acredito que
todos quiséssemos voltar ao activo, quando fosse possível. Eventualmente um playoff
de subida e de descida com 4 ou 6 equipas, com divisão dos pontos amealhados,
num mini campeonato disputado em mês/mês e meio (Junho/Julho – para situações
anómalas, medidas à altura podendo encerrar os campeonatos no fim de Julho ao
invés de fim de Junho) pudesse ser uma solução, pois acredito que todos sem excepção
preferissem decidir o que há para decidir, dentro das quatro linhas. Tenho esta
opinião desde o início, independentemente de podermos chegar a meio de Maio e
percebermos que a situação se mantém caótica e desse modo naturalmente
tomar-se-ia a decisão que foi tomada em início de Abril. No entanto, é apenas
uma opinião de quem está totalmente fora, é opinião de quem quer apenas jogar,
respeitando bastante a decisão tomada em primeira instância pela FPF e
posteriormente pela AFS. Reforço apenas que considero que haveria tempo para se
pensar melhor nas decisões a tomar, evitando complicações e discussões como tem
aparecido com as subidas de divisão.
A
questão das subidas
E
quanto à questão das subidas e não descidas. Concorda?
Parece-me um assunto
de delicadeza bastante superior aquela que temos dado. Quem está em posição de
subida irá sempre argumentar que se não subisse seria injusto, quem está em
posição de descida (caso descesse, sendo que esta situação nem se equaciona!) e
descesse seria igualmente injusto! É verdade que sempre me ensinaram que a vida
e o futebol não são justos, no entanto fica difícil ter uma opinião não
fundamentada em regulamentos. Seria impensável não se equacionar uma subida por
parte do Águas de Moura que esteve em posição de subida ao longo de 17 (das 18)
jornadas, no caso de haver subidas! Por outro lado, o Quinta do Conde
encontrava-se em 3.º lugar à data do final do campeonato, tendo estado em
posição de subida ao longo 10 jogos. Seria justo para o Quinta do Conde não
subir, subindo assim o Seixal que esteve em posição de subida ao longo de 7
jogos (menos de metade do campeonato)? E atenção, isto não é uma opinião a
favor ou desfavor de qualquer clube! Tenho um carinho enorme por todos os
clubes que estão envolvidos neste tema. O Águas de Moura pelo feito conseguido
nestes dois anos, o Quinta do Conde por ter tanta gente boa e o Seixal por ser
um clube de referência que tenho a certeza daqui a muito pouco tempo voltará a
ser o Seixal que tanta falta faz ao Distrito e que tantas saudades deixa! No
entanto, de uma coisa eu tenho a certeza, perante a possibilidade de haver uma
1.ª Distrital em 2020/2021 com 18 equipas (como se equaciona), é totalmente
insustentável para um clube com a dimensão dos Pescadores! São mais 4 jogos, é
mais um mês. São despesas a mais, é a manutenção de um plantel totalmente
amador por um tempo aproximado de 11 meses! Acresce a isto o facto de não
sabermos o que o futuro próximo nos traz, correndo o risco de ter de
interromper novamente os campeonatos a meio da próxima temporada e aí o que
faríamos? Sobem mais 2/3 e não desce nenhum? Teríamos uma época 2021/2022 com
20 equipas? É insustentável. No fundo, acho que poderíamos aguardar mais
algumas semanas para se tomar uma decisão.
Seria
delicado voltar a competir
Se
houvesse condições para prosseguir, acha que os jogadores estavam física e
mentalmente preparados para continuar a jogar?
Fisicamente será
sempre muito difícil. Os nossos jogadores não são profissionais, muitos deles
mantêm neste momento as suas actividades profissionais e isso não lhes permite,
mesmo que quisessem, manter uma rotina diária ou bi-diária de treino. Seriam
sempre necessárias no mínimo duas semanas para se poderem apresentar em
condições aceitáveis, sabendo de antemão que o risco de lesão associado a uma
débil preparação física, estaria sempre inerente, no entanto, todos estaríamos
em pé de igualdade. Com duas semanas de preparação e competição adjacente a
esta preparação. Teríamos que adaptar o nosso planeamento e gerir de encontro
com as exigências da situação. A nível mental, o que move a maioria destes
jogadores é a paixão pelo nosso desporto. Internamente queremos criar
competição assim que seja possível, queremos trazê-los para o campo e dar-lhes
a alegria de poderem jogar futebol. Tenho a certeza que se chamasse o meu
plantel para amanhã jogar, todos estariam disponíveis e que hoje seria uma
noite sem pregar olho com o desejo de competir. No entanto, reconheço que seria
sempre delicado voltar a competir apenas duas semanas depois de recomeçar, mas
pesando os prós e os contras, via mais vantagens do que desvantagens.
Quer
acrescentar mais alguma coisa?
Não queria deixar
passar esta oportunidade para mais uma vez agradecer todo o apoio dado por si
ao nosso futebol, ao futebol distrital. Não apenas no dia-a-dia no decorrer dos
nossos campeonatos, mas também nesta fase mais delicada, com a promoção de
debates e entrevistas a colegas de “luta”. O meu muito obrigado pelo que tem
feito. Aproveito ainda para desejar a todos muita saúde e que esta fase passe
rapidamente para que possamos regressar aos nossos campos.