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quinta-feira, 23 de abril de 2020

COSTA DE CAPARICA»» Balanço da época desportiva

Nuno Ferreira não concorda com 18 clubes no campeonato…

“ALARGAMENTO TORNA-SE INSUSTENTÁVEL PARA UM CLUBE COMO OS PESCADORES”  


Nuno Ferreira, líder da equipa técnica que comandou os Pescadores da Caparica no campeonato distrital da 1.ª divisão, em entrevista ao nosso jornal, faz o balanço do trabalho realizado pela equipa até ao momento em que a prova foi suspensa.

“No que respeita ao trabalho diário foi uma época positiva e em termos desportivos foi conseguido o objectivo, que passava pela manutenção”, diz o treinador.

Sobre o término do campeonato, Nuno Ferreira é da opinião que “poderiam ter aguardado mais algum tempo para tomar uma decisão” mas ao mesmo tempo reconhece que em primeiro lugar está a “saúde pública” e em particular dos jogadores, mas não concorda com o alargamento do campeonato que se torna insustentável para um clube com a dimensão dos Pescadores.

  
Época magnífica


Na altura em que o campeonato foi suspenso os Pescadores seguiam em 13.º lugar, se calhar um pouco aquém daquilo que seria de esperar…
Haverá sempre duas faces da mesma moeda e neste caso, duas apreciações que poderão ser feitas ao percurso dos Pescadores na época 2019/2020. A visão de quem é adepto e quer sempre mais e a visão de quem diariamente trabalha com tudo o que se refere a uma equipa de futebol amador. Avaliando a época como parte interveniente no que diz respeito ao trabalho diário foi uma época bastante positiva para o clube. Numa fase clara de tranquilidade e de pequenos passos de crescimento foi sem dúvida uma época magnifica para os Pescadores. Acredito que seja unanime que os Pescadores perderam muito do fulgor que tinham no passado recente, com a equipa frequentemente em lugar de subida na antiga 3.ª Divisão e todos os seus escalões de formação nos Campeonatos Nacionais. O clube tem grandeza e história para estar acima da 1.ª Distrital, mas por erros cometidos no passado, o actual presente vai dando pequenos passos para devolver o clube para o lugar onde merece estar. Desta forma, uma estrutura que tem tirado o clube do fosso onde estava evidentemente metido há alguns anos, pagando dividas atrás de dividias (não entrando naturalmente em pormenores) e sobrando pouco para fazer o presente crescer, apenas se pode orgulhar por conseguir fazê-lo da forma grandiosa como tem feito. Eu, enquanto treinador do clube, sinto-me orgulhoso do percurso que foi feito nos últimos três anos. Em termos desportivos, uma equipa que sobe da 2.ª Distrital e que se apresenta como uma das equipas com maiores dificuldades financeiras no actual campeonato, criando como objectivo natural a manutenção, e consegue estar em posição de manutenção ao longo das 18 jornadas disputadas e que a par disso alcança a melhor classificação de sempre na Taça AF Setúbal, faz-me ter a certeza clara que foi uma época inteiramente dentro do que seria de esperar.

Orgulho nos jogadores

Houve alguma coisa que não correu bem?
Haverá sempre muitas questões que não correram bem. Aparecem pedras no nosso caminho que muitas vezes nos fazem desviar do previamente definido e planeado. No entanto, fomos conseguindo encontrar as respostas que necessitávamos internamente. Num grupo fortemente composto por jogadores que vieram connosco da 2.ª Distrital (73% do plantel), foi sempre assente num grupo muito forte que fomos invertendo os momentos menos positivos. Os nossos jogadores fazem jus à história do clube e são reconhecidos como guerreiros dentro do campo e uma “família” enorme fora dele. Há um orgulho enorme tanto da Direcção como da equipa técnica, no que diz respeito aos jogadores.


Havia tempo para pensar melhor


A época terminou de forma prematura, entende que a decisão tomada foi a melhor solução encontrada?
Infelizmente para todos, a época não terminou da forma como pretendíamos. É sempre complicado quando partimos para uma maratona com 42km e ao fim de 25km nos colocam a meta à frente e dizem que afinal a prova terminou. Claramente que considero que a saúde pública está em primeiro lugar, que a saúde dos nossos jogadores e de todos os intervenientes está igualmente em primeiro lugar. Sou da opinião que talvez pudéssemos ter aguardado mais umas semanas, mesmo que a decisão fosse de encontro ao que foi tomado há uma semana e meia atrás, no entanto, se houvesse uma réstia de hipótese de se poder jogar, poderíamos ter aguentado. Neste campeonato há jogadores que jogam por amor ao desporto, assim como há jogadores que conseguem tirar um complemento do seu ordenado com esta mesma prática e outros a quem o futebol permite duplicar o salário. Para todos os casos (amor ao desporto, complemento salarial ou estabilidade financeira) acredito que todos quiséssemos voltar ao activo, quando fosse possível. Eventualmente um playoff de subida e de descida com 4 ou 6 equipas, com divisão dos pontos amealhados, num mini campeonato disputado em mês/mês e meio (Junho/Julho – para situações anómalas, medidas à altura podendo encerrar os campeonatos no fim de Julho ao invés de fim de Junho) pudesse ser uma solução, pois acredito que todos sem excepção preferissem decidir o que há para decidir, dentro das quatro linhas. Tenho esta opinião desde o início, independentemente de podermos chegar a meio de Maio e percebermos que a situação se mantém caótica e desse modo naturalmente tomar-se-ia a decisão que foi tomada em início de Abril. No entanto, é apenas uma opinião de quem está totalmente fora, é opinião de quem quer apenas jogar, respeitando bastante a decisão tomada em primeira instância pela FPF e posteriormente pela AFS. Reforço apenas que considero que haveria tempo para se pensar melhor nas decisões a tomar, evitando complicações e discussões como tem aparecido com as subidas de divisão.

A questão das subidas


E quanto à questão das subidas e não descidas. Concorda?
Parece-me um assunto de delicadeza bastante superior aquela que temos dado. Quem está em posição de subida irá sempre argumentar que se não subisse seria injusto, quem está em posição de descida (caso descesse, sendo que esta situação nem se equaciona!) e descesse seria igualmente injusto! É verdade que sempre me ensinaram que a vida e o futebol não são justos, no entanto fica difícil ter uma opinião não fundamentada em regulamentos. Seria impensável não se equacionar uma subida por parte do Águas de Moura que esteve em posição de subida ao longo de 17 (das 18) jornadas, no caso de haver subidas! Por outro lado, o Quinta do Conde encontrava-se em 3.º lugar à data do final do campeonato, tendo estado em posição de subida ao longo 10 jogos. Seria justo para o Quinta do Conde não subir, subindo assim o Seixal que esteve em posição de subida ao longo de 7 jogos (menos de metade do campeonato)? E atenção, isto não é uma opinião a favor ou desfavor de qualquer clube! Tenho um carinho enorme por todos os clubes que estão envolvidos neste tema. O Águas de Moura pelo feito conseguido nestes dois anos, o Quinta do Conde por ter tanta gente boa e o Seixal por ser um clube de referência que tenho a certeza daqui a muito pouco tempo voltará a ser o Seixal que tanta falta faz ao Distrito e que tantas saudades deixa! No entanto, de uma coisa eu tenho a certeza, perante a possibilidade de haver uma 1.ª Distrital em 2020/2021 com 18 equipas (como se equaciona), é totalmente insustentável para um clube com a dimensão dos Pescadores! São mais 4 jogos, é mais um mês. São despesas a mais, é a manutenção de um plantel totalmente amador por um tempo aproximado de 11 meses! Acresce a isto o facto de não sabermos o que o futuro próximo nos traz, correndo o risco de ter de interromper novamente os campeonatos a meio da próxima temporada e aí o que faríamos? Sobem mais 2/3 e não desce nenhum? Teríamos uma época 2021/2022 com 20 equipas? É insustentável. No fundo, acho que poderíamos aguardar mais algumas semanas para se tomar uma decisão.


Seria delicado voltar a competir


Se houvesse condições para prosseguir, acha que os jogadores estavam física e mentalmente preparados para continuar a jogar?
Fisicamente será sempre muito difícil. Os nossos jogadores não são profissionais, muitos deles mantêm neste momento as suas actividades profissionais e isso não lhes permite, mesmo que quisessem, manter uma rotina diária ou bi-diária de treino. Seriam sempre necessárias no mínimo duas semanas para se poderem apresentar em condições aceitáveis, sabendo de antemão que o risco de lesão associado a uma débil preparação física, estaria sempre inerente, no entanto, todos estaríamos em pé de igualdade. Com duas semanas de preparação e competição adjacente a esta preparação. Teríamos que adaptar o nosso planeamento e gerir de encontro com as exigências da situação. A nível mental, o que move a maioria destes jogadores é a paixão pelo nosso desporto. Internamente queremos criar competição assim que seja possível, queremos trazê-los para o campo e dar-lhes a alegria de poderem jogar futebol. Tenho a certeza que se chamasse o meu plantel para amanhã jogar, todos estariam disponíveis e que hoje seria uma noite sem pregar olho com o desejo de competir. No entanto, reconheço que seria sempre delicado voltar a competir apenas duas semanas depois de recomeçar, mas pesando os prós e os contras, via mais vantagens do que desvantagens.

Quer acrescentar mais alguma coisa?
Não queria deixar passar esta oportunidade para mais uma vez agradecer todo o apoio dado por si ao nosso futebol, ao futebol distrital. Não apenas no dia-a-dia no decorrer dos nossos campeonatos, mas também nesta fase mais delicada, com a promoção de debates e entrevistas a colegas de “luta”. O meu muito obrigado pelo que tem feito. Aproveito ainda para desejar a todos muita saúde e que esta fase passe rapidamente para que possamos regressar aos nossos campos.