Não pode ser considerado o parente pobre do futebol ...
“O FUTEBOL FEMININO TEM DE SER PROFISSIONALIZADO CUSTE O QUE CUSTAR”
Nuno Painço deixou a presidência do Racing Power mas não tem parado de trabalhar para que o futebol feminino possa evoluir em Portugal.
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“A partir do momento em que saí do Racing, e não estando ligado a nenhum clube, tenho tido tempo para me dedicar a outras vertentes, sempre relacionadas com o futebol feminino. Quando aceitei fazer parte do projeto ‘crescimento no futebol feminino’, entrei com a consciência de que havia muito por fazer em termos de organização, profissionalismo, liderança, mas acima de tudo da criação de condições para argumentar junto das entidades que tutelam o futebol, e não só, que o futebol feminino não é, nem pode ser considerado, o parente pobre do futebol”, começou por dizer Nuno Painço.
“Entrei numa transição entre projetos - estava num clube quase centenário, com uma estrutura definida mas com grandes dificuldades financeiras para apostar forte no futebol feminino. Tive de criar um clube do zero, colocar esse mesmo clube a funcionar em todas as frentes, com um forte investimento e com objetivos bem definidos e delineados pelos seus três fundadores e em três anos estávamos na Liga BPI. Se as dificuldades eram muitas por se tratar de um clube criado do zero, mais se agravou com o aparecimento da pandemia Covid-19”, e prosseguindo Nuno Painço adianta que “durante os cinco anos em que ocupei o cargo de Presidente do Racing Power, fui ganhando cada vez mais experiência, mas, acima de tudo, sensibilidade de perceber como esta vertente do futebol tem de evoluir e o caminho que tem de seguir para atingir o sucesso, tanto com a equipa sénior como com as equipas da formação. O segredo? Dedicação, trabalho e profissionalismo”, especifica.
“Ainda antes da tomada de posse da equipa do dr. Pedro Proença como presidente da FPF, tanto eu como o eng. Ismael Duarte, já tínhamos constatado que para a evolução sustentada, equilibrada, mas profissional do futebol feminino, era preciso muito mais do que aquilo que estava a ser feito, que era preciso avançar para a profissionalização do futebol feminino. Tentámos saber junto do dr. Pedro Proença, então ainda como presidente da Liga de Clubes, qual era a sua visão para o futebol feminino. Como é óbvio convidámos alguns clubes para essa mesma reunião, mas acabámos por ir sozinhos. O medo de represálias era constante e na verdade fomos nós que sofremos na pela a nossa ousadia”.
Situações como a do Vilaverdense na época passada e do Damaiense esta temporada, não podem acontecer
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A consulta pública que foi feita apenas serviu para atirar areia aos olhos daqueles que andam desatentos ou não percebem nada disto
Em relação aos novos modelos competitivos que entraram recentemente em vigor Nuno Painço é perentório, não servem os interesses dos clubes, e explicou porquê.
“A FPF tentou fazer tudo muito à pressa antes de terminar o último ano de mandato do dr. Fernando Gomes. Na minha opinião se estava de saída nada deveria ter sido alterado sem o parecer da nova Direção, que ficou deveras condicionada a tudo o que foi implementado pelo elenco anterior. É que na Liga de Clubes, são os clubes que determinam o caminho que querem seguir, dentro da linha orientadora que a Direção da Liga propõe, e leva a votação em AG. Nas competições da FPF é imposto aos clubes aquilo que quer que se faça, mesmo que os clubes estejam em desacordo com os formatos de competição implementados. A consulta pública que foi feita apenas serviu para atirar areia aos olhos daqueles que andam desatentos ou não percebem nada disto”.
Futebol feminino tem de sair da alçada da FPF
“Já alguém conseguiu justificar a redução de clubes na principal competição do futebol feminino português de 12 para 10, quando as principais ligas de futebol feminino europeias têm mais clubes; por exemplo, a Liga F MOEVE espanhola tem 16 equipas; a Frauen Bundesliga alemã, 14 equipas; a Barclays WSL inglesa, 12 equipas; a Premiere League francesa, 12 equipas? Temos de seguir o exemplo dos campeonatos mais fortes e não seguir o exemplo daqueles que não têm qualquer expressão. O futebol feminino tem de ser profissionalizado custe o que custar e para isso tem de sair da alçada da FPF porque a federação – conforme está determinado estatutariamente – não pode ter competições profissionais. O passo seria colocar a Liga BPI na Liga de Clubes ou mesmo criar uma Liga Feminina, onde estariam inseridas a Liga BPI como competição profissional e a segunda divisão como semiprofissional, ficando os campeonato nacionais da 3.ª e 4.ª divisão e os campeonatos nacionais de formação, na FPF”, é esta a opinião de Nuno Painço.
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Apenas três clubes (Racing Power, Valadares e Damaiense) não estão representados na Liga de Clubes, com o futebol masculino.
Numa perspetiva de futuro, Nuno Painço, adianta que “com a subida ao escalão principal do Rio Ave e do Vitória SC, apenas três clubes (Racing Power, Valadares e Damaiense) não estão representados na Liga de Clubes, com o futebol masculino. Na Liga Portugal Betclic temos o SL Benfica, Sporting CP, SC Braga, Vitória SC, Rio Ave FC e na Liga Meu Super o Marítimo e o Torreense. E com o FC Porto a bater à porta da Liga BPI, estamos perante um produto extraordinário, o melhor leque de clubes para se começar a trabalhar na Liga de Clubes de Futebol Feminino”.
Tudo o que é exigido aos clubes, para poderem participar nas provas, é como se fossem clubes profissionais
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Querem fazer acordos coletivos de trabalho, que profissionalizem o futebol feminino. O dr. Pedro Proença ainda não deve ter tido hipótese de analisar este assunto
E justificando o que acaba de dizer acrescenta que “os clubes para receberem o valor correspondente à classificação da época transata a que têm direito, têm de inscrever no mínimo 16 atletas com contrato de trabalho desportivo, que implica encargos com segurança social, seguros de trabalho e mais despesas que daí possam resultar. Querem que os clubes sejam cada vez mais profissionais e eu estou de acordo. Mas quem manda tem de seguir outro caminho, querem fazer acordos coletivos de trabalho, pois bem, profissionalizem o futebol feminino. Acredito que o dr. Pedro Proença ainda não teve hipótese de analisar este assunto e que neste momento ninguém esteja preocupado em fazê-lo porque muito provavelmente tiveram de arrumar a casa para acabar com vícios e regalias de alguns mas muito provavelmente essa limpeza ainda não chegou aos pontos chave.
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