Um bom exemplo para a juventude nos dias de hoje ...
“QUERO MOSTRAR QUE HÁ ESPAÇO PARA TODOS, DENTRO E FORA DAS QUATRO LINHAS”
Crescido no Miratejo, José Azedo Gonçalves é hoje árbitro, formador e técnico de projetos sociais. Nesta entrevista, fala-nos da sua caminhada, dos desafios superados, da paixão pela arbitragem e do impacto transformador do Clube Escolhas na vida de tantos jovens.
Como foi crescer no Miratejo e de que forma isso influenciou o teu percurso?
Quando é que sentiste que a arbitragem podia ser um caminho?
Tudo começou com uma professora de Educação Física na escola básica de Corroios, que também foi jogadora e treinadora no CRC Quinta dos Lombos (futsal). Foi uma das primeiras pessoas que viu potencial em mim e me ajudou muito a entrar nesta área do desporto e da arbitragem. Ela convidou-me a apitar os jogos interturmas e foi aí que ganhei gosto pela arbitragem. Percebi que esta função exigia liderança, imparcialidade e atenção ao detalhe, e que essas responsabilidades me motivaram. A partir daí, decidi investir a sério: tirei o curso de árbitro de futebol e, mais tarde, o de futsal. Agora, estou a preparar-me para abraçar também o futebol de praia.
O que te atrai na arbitragem?
O que te marcou mais até agora neste percurso?
O mérito, o esforço e a ética têm sido reconhecidos. Uma das maiores surpresas foi ter recebido um cartão branco num jogo, dado por uma equipa como reconhecimento pelo meu desempenho enquanto árbitro. Este gesto não é comum e reforça que é possível atuar com dedicação e respeito, mesmo em contextos difíceis. Este cartão branco espero que seja uma motivação para os árbitros que já estão cá, mas também para todos os novos que ainda vêm a caminho e querem abraçar a arbitragem. É um reconhecimento que mostra que, com ética e dedicação, conseguimos fazer a diferença dentro e fora do campo.
Porquê apostar tanto na arbitragem dentro do Clube Escolhas?
A arbitragem é muitas vezes esquecida, mas é essencial no desporto. Com a criação do grupo de arbitragem, quisemos dar aos jovens uma oportunidade concreta de iniciarem esse percurso com responsabilidade, ética e competência. Acredito que podemos formar “senhores e senhoras do apito” que levem o nome dos seus bairros com orgulho e façam a diferença nos recintos desportivos. Para além disso, esta iniciativa oferece uma oportunidade aos jovens que, pela idade, já não podem jogar e querem continuar ligados ao desporto.
O Clube Escolhas é muito mais do que um momento desportivo e social. O que destacas nele?
Para além do aspeto desportivo, temos missões onde os jovens criam, nas suas comunidades, o seu próprio clube, o seu equipamento e a sua claque. Acompanhamos os jovens no seu percurso escolar com a criação dos contratos escolares. Também promovemos missões em que os jovens realizam ações de intervenção dentro das suas comunidades, nos bairros onde vivem. É um projeto que promove o sentido de pertença, responsabilidade e cidadania.
Tens estado ligado a outras organizações como o IPDJ, o PNED, a Social Innovation Sports, o “Estás n@ Mira” e o CASM. Que papel têm tido no teu percurso?
O “IPDJ” foi onde tive algumas das minhas primeiras experiências de voluntariado. Ali aprendi a liderar, a comunicar, a representar. Mais tarde, fui convidado para integrar o quadro de formadores do PNED, o Plano Nacional de Ética no Desporto. Dinamizo sessões para atletas, treinadores, pais e encarregados de educação, sempre com o foco nos valores éticos no desporto.
Já na “Social Innovation Sports”, participo na organização do Clube Escolhas, onde temos promovido eventos com grande impacto, como torneios inclusivos com jovens da Fundação Maria Droste ou jogos com jovens refugiadas, com o apoio da Fundação Benfica. Nestes eventos, os árbitros foram jovens formados por nós, o que mostra o impacto real e imediato do nosso trabalho.
Não posso deixar de referir também o projeto “Estás n@ Mira” e o “CASM”, onde fui participante e que, juntamente com outros projetos, me ajudaram a sair dos problemas e a construir o que sou hoje. Foram espaços fundamentais para o meu crescimento pessoal e para perceber que há sempre uma saída, um caminho para fazer diferente.
O que esperas para o futuro, tanto a nível pessoal como profissional?
Que mensagem deixas para os jovens que, como tu, vêm de contextos difíceis?
Porque no fundo, isto não é só sobre mim, é sobre todos os jovens que se olham ao espelho e duvidam do seu valor. É sobre os que têm talento, mas não têm oportunidades. Os que ouvem mais “não” do que “sim”. Quero ser prova de que vale a pena insistir, mesmo quando tudo parece difícil.
Plantar essas sementes é o que me move. Porque sei o que é crescer a achar que não temos lugar, que ninguém nos vê, que estamos sozinhos. E sei também o quanto muda quando alguém acredita em nós. Por isso, cada jovem que cruzo é uma oportunidade de fazer diferente, de devolver o que um dia recebi. Não quero ser exceção, quero fazer parte de uma geração que abre caminhos.
Que mostra que o bairro não limita, que o passado não define, e que os sonhos são legítimos, mesmo quando o mundo nos diz o contrário. Se eu consegui dar a volta, outros também conseguem. E estarei sempre aqui para lembrar isso
E é aí que o Clube Escolhas, a arbitragem, os projetos sociais, tudo faz sentido. Porque estamos a criar estruturas reais, onde os jovens podem crescer com dignidade, com esperança e com ferramentas para irem mais longe.
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