VOLEIBOL»» Mudanças na Pedro Eanes Lobato - JORNAL DE DESPORTO

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quinta-feira, 23 de maio de 2019

VOLEIBOL»» Mudanças na Pedro Eanes Lobato

Nuno Maria está de saída após 15 anos de permanência…

“É ALTURA DE DEIXAR DE FORMA ABERTA AS PORTAS PARA QUE OUTROS ASSUMAM A SUA LINHA DE TRABALHO”


Depois de vários anos na PEL, Nuno Maria está de saída. Será razão para perguntar, porquê?
As razões são várias, mas o passado mês de Dezembro, foi claramente o momento que marcou esta decisão. Primeiro um problema de saúde, agudizado pelo stress contínuo do clube, e depois a decisão do presidente do clube, naquele momento, em não continuar na próxima época. Decisão tomada e informada numa reunião com colaboradores e decisiva para mim. Pois desde o primeiro momento que me juntei a este projecto sempre disse que aquando da saída do presidente que eu também sairia. Este foi um projecto montado e desenvolvido com base escolar, dirigido por professores e com filosofias diferenciadas do actual associativismo, por isso muito ímpar e diferenciador, penso que o sucesso das conquistas teve estes princípios por base. Depois é fácil de perceber, que não poderia continuar com esta linha sozinho. Saliento que não sou profissional de desporto, sou profissional de Educação Física e o esforço e tempo dados a este projecto praticamente me tiraram o tempo para ter vida própria, foram muitos anos a assumir muita coisa e só neste ano foram 80 jogos em 36 fins-de-semana, viagens e mais viagens, comecei a época com 4 equipas e foi até rebentar. Relembro que tinha a coordenação técnica e as Seniores no escalão máximo do voleibol nacional. O apoio foi sempre residual e é humanamente impossível de manter e aguentar, pelo menos para mim, sabemos o enquadramento deste tipo de clubes. Todos os anos me competiram tarefas paralelas, tanto logísticas, como de treinadores, atletas, patrocinadores e muito mais, tudo somado dá como resultado uma saturação, um desgaste incomportável, ultrapassável só com muita carolice e abdicando de muita coisa. Depois o estado do voleibol actual e os valores, é difícil entender muita coisa, as verbas que estão inerentes à competição, as coimas, etc, e depois a parte ética. Até se atingir um certo patamar, existem sempre muitos amigos, depois é o salve-se quem puder e isso é a morte dos projectos, porque o rácio atletas de qualidade/ clubes na primeira divisão/ condições estruturais é muito baixo e depois obviamente surgem as ultrapassagens pela direita e isso não pode ser para este projecto, o contexto e a filosofia que este projecto tinham não se coaduna com alguns aspectos desta realidade federada, para ultrapassar isso tivemos de nos focar naquilo que nos move, nas atletas e no proporcionar de uma prática devidamente orientada e de excelência.


Depois a grande dificuldade em transmitir valores desportivos, algumas vezes por inexistência de educação desportiva, depois pelo contexto da sociedade, onde o compromisso, a responsabilidade e muitos mais valores não são enquadrados num modelo desportivo, mas isso é um problema de todos e de difícil resolução, que se tem alastrado e que é de difícil controlo. O saber estar, o saber fazer e perceber que só é possível com trabalho, exigência e que é preciso respeitar estados de desenvolvimento, são de difícil explicação e muitas vezes incompreendidos, logo problemáticos. É muito difícil planear a médio/ longo pois os factores externos e os quais não controlamos são imensos e estar constantemente a lutar contra eles é inglório e muito ingrato. Começar, recomeçar e voltar a fazer pode ser muito interessante, mas desgastante e quando não é devidamente alimentado, reconhecido e apoiado é inevitável e todos sabemos o resultado final, é o que está à mostra.
Também nos últimos tempos senti claramente que a minha linha de pensamento para o clube era uma linha cada vez mais diferenciadora e como sempre coloquei os interesses do clube á frente dos meus, é altura de deixar de forma aberta as portas para que outros assumam a sua linha de trabalho, sem que tenha qualquer interferência.
Depois o factor decisivo a minha família, tem sido ela a grande sacrificada e muitas vezes preterida em prol dos outros, é então o momento para ela que mais do que ninguém merece.
Como neste momento nunca poderia assumir tudo o que é do clube, como nunca foi isso que desejei e como as atuais alternativas têm pontos de vista antagonistas dos meus é a altura de sair. 

“Saio de consciência tranquila”

- Provavelmente não terá sido fácil tomar esta decisão?
Têm sido meses muito difíceis, dolorosos para mim, são 15 anos onde dei tudo, onde construi muito, permiti a muitas atletas crescerem, lutarem e alcançarem sonhos. Foi para elas que sempre me dediquei, para lhes poder proporcionar o que nunca tive, na minha margem, e dando-lhes todo o meu trabalho e saber. Mas para irmos à luta temos de ter condições mínimas, porque senão o prazeroso torna-se doloroso e para isso temos de trabalhar todos muito, o problema esteve no todos.


Mas saio de consciência tranquila, não só pelo percurso realizado até aqui, mas pelo trabalho preparado para o que se segue, está devidamente enquadrado e estou mais que seguro que os próximos 5 anos estão garantidos em termos de qualidade, foram muitos anos investidos no projecto, agora há que continuar e melhorar o que está feito. Quando cheguei existia uma equipa, não haviam bolas oficiais, treinavam num relvado sintético ao ar livre e basicamente não havia nada, hoje quem pegar tem tudo e tem tudo com um carimbo de qualidade, desde material até à qualidade das atletas. Mas também por isso tem muita responsabilidade em manter e melhorar, se é possível, claro que sim, mas só com muita dedicação, entrega, competência e humildade, quando se vem para aqui o todo e os outros são mais importantes do que o eu, engane-se quem ache que vai agradar a todos e que o clube serve de projector de individualidades e egos, esse é o caminho errado.

“Fazer muito, com pouco…”

- Para trás fica o sucesso de um trabalho notável a nível da formação e um feito que mais ninguém conseguiu a sul do Tejo, ter uma equipa sénior na 1.ª Divisão Nacional. Sente orgulho naquilo que fez?
Sinto muito orgulho, mas tudo só foi possível com trabalho sério e de equipa, com atletas que se dispuseram a ajudar e que são referências nacionais, acreditaram no que se estava a fazer e vieram com espírito de missão e responsabilidade pelo desenvolvimento do voleibol, mas estou certo que ninguém ainda percebeu o que se fez aqui, da dificuldade daquilo que se alcançou e do que permitiu a tantos atletas e clubes crescerem connosco. Ajudamos a reduzir a décalage entre voleibol da margem sul e da margem norte, do norte do país e do sul do país e deixamos uma marca.
Mostramos que é possível fazer muito com pouco, sendo honestos, cumpridores e competentes. Apostamos tudo na formação, na desportiva e na académica, sabíamos que só era possível fazer muito bem, fazendo de forma excelente na base, investimos num modelo de jogo, investimos nas muitas horas de trabalho e investimos na quantidade e qualidade, sobretudo apostando em treinadores de excelência. Foi fundamental aferir, avaliar com rigor e tentar sempre melhorar.
O mais difícil não foi atingir patamares de excelência (também foi), mas sim manter os mesmos, pois outros clubes com muito melhores condições e escolas de formação de excelência noutras modalidades não atingiram, tornou-se hábito irmos a fases finais e enviarmos atletas para as selecções nacionais.
O trabalho foi construído de forma horizontal (dentro de cada nível) e de forma vertical (entre níveis diferenciados), trabalhar por níveis de desenvolvimento, em vez de escalões, trabalhar com modelos onde o padrão e a orientação final é o grupo sénior, realizar isto e nunca esquecer a especificidade de cada grupo, de cada pessoa, é muito trabalho realizado com muito profissionalismo e só ao alcance de quem se predispõe a trabalhar muito e bem.  


“Continuarei ligado ao desporto escolar da minha escola”

- Um técnico com as suas credenciais, certamente não vai ficar parado. Está disponível para abraçar um novo projecto?
Hoje estou disponível para ir para casa, descansar, reflectir e estar junto dos meus, é o que farei a partir de dia 3 de Junho. O resto não é prioridade. É verdade que já me tentaram contactar, mas não falei com ninguém, primeiro porque tenho ainda as iniciadas em competição e depois porque não é a minha prioridade.

- Há algo mais que queira acrescentar?
Dizer que aquilo que mais desejo é que todas continuem a jogar voleibol, de preferência na PEL, que sejam felizes e que se gostam realmente de voleibol que o respeitem, dando o seu melhor e querendo sempre ser o melhor, persistindo e ultrapassando obstáculos, definindo objectivos e sonhando, porque tudo é possível. Eu estarei sempre cá disponível para todas as atletas e para quem precisar de mim.
Quero obviamente agradecer a todos os que partilharam este percurso comigo, não quero mencionar nomes para não me esquecer de ninguém, sobretudo as atletas, mas também os treinadores e patrocinadores que confiaram no trabalho e sem eles não teria sido possível.
Agradecer à Junta de Freguesia de Amora e à Câmara Municipal do Seixal, pelo apoio constante e por apoiarem o Voleibol.
Por fim agradecer aos meus amigos e familiares por me terem apoiado sempre e terem permitindo este longo caminho, sabendo da importância do mesmo para mim, em prol dos outros.
É um até já ao voleibol federado da PEL, mas continuarei ligado ao desporto escolar da minha escola que é a Pedro Eanes Lobato, trabalharei com o meu grupo disciplinar e com a Direcção da minha escola de forma a continuarmos a formar atletas de voleibol e encaminharmos os mesmos para o federado, como tão bem têm feito nos últimos anos.

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