U. SANTIAGO»» Vítor Madeira explica razões da saída - JORNAL DE DESPORTO

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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

U. SANTIAGO»» Vítor Madeira explica razões da saída

 

 

Enquanto o covid-19 estiver por perto não volta a treinar…

 

“É IMPORTANTE PERCEBEREM QUE O FUTEBOL NÃO É O MAIS IMPORTANTE DAS NOSSAS VIDAS”

 

 

Treinador da equipa alentejana, que fez três quarentenas, pediu para sair por considerar não haver condições para trabalhar e não se sentir seguro no exercício de funções

 

 


Vítor Madeira assumiu no início da época o comando técnico do U. Santiago que se reforçou bastante com jogadores de grande qualidade para lutar pelos primeiros lugares. Com dois jogos realizados no campeonato a equipa sofreu outras tantas derrotas mas apesar disso os objectivos mantinham-se intactos porque o projecto era deveras ambicioso. 

Quer isso dizer que a saída do treinador nada tem a ver com os resultados mas sim com a falta de condições para trabalhar causadas pelas constantes paragens que o clube foi obrigado a fazer, devido à pandemia.

 

Nesta entrevista concedida ao nosso jornal, Vítor Madeira conta tudo ao pormenor.    

 

 

Por que razão deixou o comando técnico do união de Santiago?

 

A decisão que tomei tem a ver com a situação que se vive actualmente no país. O U. Santiago foi fustigado com três casos de covid-19, estivemos 45 dias em quarentena e eu como treinador não me sinto capaz de desempenhar o meu trabalho. Enquanto gestor de recursos não me sinto feliz a fazer o meu trabalho com os jogadores e ninguém se sente seguro perante o que tem acontecido. Como sou uma pessoa séria e gosto de encarar as coisas de olhos nos olhos e gosto de estar feliz, senti a necessidade e a obrigação de colocar um termo no vínculo que tinha com o U. Santiago. Era impossível treinar nestas condições.


 

Quer dizer então que foi uma decisão devidamente ponderada?

 

Sim, foi. Veja só este caso: no dia 20 de Dezembro íamos jogar com o Moitense. Na véspera, estava a acompanhar a equipa de Sub-22, precisamente na Moita, quando um jogador da equipa principal me ligou a dizer que estava com covid-19. Era o terceiro caso no plantel, tivemos que ficar mais quinze dias de quarentena e logo na época de Natal. Eu e os meus familiares passámos uma quarentena muito difícil. Fui amadurecendo sobre o assunto e numa conversa com o presidente do clube e com o Carlos Nobre tentei falar-lhes ao coração e disse-lhes que não me sentia feliz a dar treino nestas condições. Como o U. Santiago é rico em pessoas de bem, aceitaram a minha decisão.

 


Mas certamente gostaria de ter ficado até ao fim da época?

 

Claro que sim. Do U. Santiago guardo as melhores recordações, gostei de ter treinado e de ter feito parte de um clube tão grande. Fui super bem tratado, não tenho nada a apontar ao União porque é gerido por gente séria. O problema tem a ver apenas com o covid-19 e com o facto de não conseguir treinar em condições. Começámos no dia 1 de Setembro, fizemos dois jogos de preparação e tínhamos 27 treinos realizados até à data em que saí. Ou seja, isto é muito pouco para uma equipa que quer andar nos lugares de cima e que tem jogadores, condições e estrutura para discutir este ano os primeiros lugares, mas assim é impossível. O que me faz andar no futebol é o gosto que tenho por ele mas a nossa família deve estar sempre em primeiro lugar. Aproveito para apelar a todos para que se protejam porque o vírus está cada vez mais forte, temos que cuidar de nós, dos nossos filhos e das nossas famílias porque vivemos do nosso trabalho e não daquilo que ganhamos no futebol. 

 

 

Há quem diga que os responsáveis pela saúde na região têm sido demasiado exigentes na imposição das regras. Também partilha desta opinião?

 

Temos sido muito fustigados na região com esta doença mas os nossos clubes têm sido sérios porque identificam os casos e informam a delegada de saúde, que decide de acordo com as normas. Se é exigente de mais ou não, não sei, provavelmente será, mas nestas questões de saúde não se deve facilitar. No nosso caso tínhamos os jogadores distribuídos por quatro balneários, dois no campo sintético e dois no relvado e tivemos sempre cinco jogadores em cada balneário, cumprimos sempre as regras, se calhar ao contrário do que acontece noutras regiões.  Digo isto porque há clubes situados em concelhos com maior número de infectados que nunca param, veja-se por exemplo o Barreirense que tem cinco jogos realizados e nós apenas dois.  Mas, como já disse, esta última quarentena fez-me pensar que o futebol é muito importante para mim mas actualmente não posso passar o futebol para a frente da minha vida porque tenho filhos, mulher, pai e irmãos com quem me relaciono quase todos os dias. Já agora aproveito para deixar uma palavra de agradecimento aos directores do U. Santiago que foram sempre estrondosos na forma como me trataram. A prova disso é que saí da mesma maneira que entrei, com um sorriso na cara. Estarei sempre na bancada a torcer pelas vitórias e pelo sucesso do clube.

 

E o futuro como vai ser. Vai querer com certeza continuar a exercer funções?

 

Para já vou fazer um interregno. Já tive convites para voltar a treinar no distrital mas enquanto o covid-19 estiver por perto não voltarei a fazê-lo. Continuarei ligado ao futebol através da televisão ou nos campos quando nos deixarem mas esta época não irei com toda a certeza treinar em lado nenhum, nem no futebol de cinco ou de sete, porque não há condições e não me sinto seguro para fazer aquilo que gosto. Não quero estar infeliz no sítio onde sou feliz. É importante que as pessoas percebam que o futebol não é o mais importante das nossas vidas.

 

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